A Vida Sem Nós Parte 8


Uploaded by tasmenias on 08.03.2012

Transcript:
Imagine nosso planeta sem suas pessoas.
Imagine que cada ser humano simplesmente... desapareceu.
Essa não é a história de COMO isso aconteceria.
É a história do que aconteceria ao mundo que deixamos para trás.
Agora, em "O Mundo Sem Ninguém":
As melhores defesas significam maior sobrevivência?
Ou os que parecem mais fracos teriam melhores chances?
Grandes navios de guerra sofrem novos ataques.
Animais de fazendas ficam por conta própria.
E uma ogiva nuclear secreta aponta para um novo alvo no fundo do mar.
Junte-se a nós em uma visita das alturas das cidades
ao fundo do oceano.
E a um deserto e desolado local na cidade de Nova York.
Bem-vindos à Terra. População: Zero.
__SteriS__+__pitiKa__ Apresentam:
O Mundo Sem Ninguém [S01E08] ARMADOS E INDEFESOS
Original Air Date: 09 de junho de 2009
Nada na Terra é construído mais forte do que as máquinas de guerra.
Aviões de caça, navios de guerra, e bunkers fortificados.
Mas essas defesas oferecem alguma proteção em um mundo sem ninguém?
Ou elas são tão vulneráveis quanto as mais
indefesas estruturas e criaturas da Terra?
1 DIA SEM NINGUÉM
UM DIA após os humanos.
Nas profundezas do Oceano Pacífico, há uma relíquia da Guerra Fria.
Uma bomba relógio.
Em 1968, o submarino soviético K-129
afundou sob circunstâncias misteriosas.
Ele estava carregando um mini-arsenal nuclear,
incluindo dois torpedos nucleares, e três mísseis submarinos SS-N5,
cada um com uma ogiva de 1 megaton.
Em 1974, a CIA recuperou parte do submarino,
mas o resto, incluindo os mísseis, permaneceu no fundo do oceano,
a quase cinco quilômetros de profundidade.
Além de cada detonador de 3 kg de plutônio,
os mísseis são encapsulados em deutereto de lítio,
um componente sólido que fornece o hidrogênio em bombas de hidrogênio.
A substância cinza explode se entrar em contato com a água.
Quando o submarino afundou, pelo menos
uma das ogivas pode ter sido danificada.
Um dia após os humanos,
seus grossos revestimentos de metal ainda mantém a água longe,
pelo menos por enquanto.
2800 km a sudoeste,
o navio de guerra "Missouri" está calmamente em "Pearl Harbor",
na ilha havaiana de "Oahu".
Permanentemente atracado aqui como um museu desde 1998,
este é o último navio de guerra americano lançado,
e o último a ser aposentado.
Ele é 1,50m mais longo e 25m mais largo do que o Titanic.
Lançado em 1944, seu deck testemunhou
a rendição japonesa na segunda Guerra Mundial.
Suas armas foram usadas pela última vez em 1991,
durante a Operação Tempestade no Deserto (Iraque).
O Missouri está bem equipado para combater aviões e navios inimigos,
mas abaixo do seu deck, em um canto do refeitório,
está sua principal defesa em um mundo sem ninguém.
Um painel de controle do sistema de corrosão catódica do Missouri.
Ele impede a ferrugem, enviando uma corrente elétrica
às barras de zinco presas ao casco.
O zinco eletricamente carregado evita a corrosão do aço,
mas este processo só é eficiente se o metal estiver submerso.
Acima da água, limpeza e pintura são as únicas defesas.
Defesas que já eram fracas, mesmo durante o tempo dos humanos.
Aqui temos exemplos de ferrugem a bordo do "USS Missouri".
Boa parte da superfície enferruja, rapidamente quando a pintura solta.
Se você olhar as braçadeiras e presilhas que prendem os canos,
verá que estão fracas a ponto de romper e soltar.
2 DIAS SEM NINGUÉM
2 DIAS após os humanos.
Algumas da criaturas mais indefesas do mundo enfrentam um mundo
para o qual estão completamente despreparadas.
Existem 9 milhões de vacas de leite apenas nos EUA,
e elas dão leite duas a três vezes por dia.
Mas agora, os tambos estão vazios,
e as máquinas de leite foram desligadas.
As vacas de leite são incrivelmente dependentes dos humanos.
Assim que desaparecermos e elas saírem de sua rotina,
de seu ritmo de produção de leite, elas ficarão confusas.
Quando alguém virá me pegar, me levar para a ordenhadeira?
Quando alguém virá me trazer mais comida?
Elas vão mugir, tentando fazer-nos saber que precisam de atenção.
Apesar de algumas desenvolverem infecções no ubre,
a dor e o desconforto da maioria será apenas temporário.
Surpreendentemente, na grande maioria delas vai ocorrer
o que chamamos de "seca": vão parar de produzir leite.
O leite que ficar no ubre vai ser absorvido pelo corpo,
e seu sistema vai dizer: "Ei, é hora de parar de produzir leite".
Isso vai levar cerca de duas semanas.
Mas nem todas as vacas de leite estão seguras.
Provavelmente os animais que terão o maior stress
e que vão ter os maiores problemas,
se os humanos desaparecerem, seriam os bezerros,
porque eles são muito vulneráveis e dependentes dos humanos.
Bezerros devem ser alimentados à mão duas vezes por dia,
porque suas mães são condicionadas a produzir leite em massa,
e prestam pouca atenção a seus bebês.
Hoje, mesmo os adultos são dependentes dos humanos para comer.
Se as vacas não forem alimentadas, elas vão andar à esmo, tentar sair,
vão empurrar as porteiras, e se não conseguirem abri-las,
e provavelmente não conseguirão,
elas vão ficar fracas, vão se deitar e, sem comida, vão morrer.
3 DIAS SEM NINGUÉM
3 DIAS após os humanos.
4.000 caças, bombardeiros e outros aviões
repousam em formação no deserto do Arizona.
Mas esta frota-fantasma está coberta de um branco fantasmagórico
e não são pilotos, mas coiotes que vagueiam por estas terras.
Aqui é o Centro de Recuperação e Manutenção Aeroespacial.
No tempo dos humanos, foi um centro de armazenamento
e cemitério de aeronaves militares.
Os aviões daqui estão mais prontos para um mundo sem ninguém
do que em qualquer outro lugar na Terra.
A cobertura de látex branco, conhecida como "Spray Latte",
é o que os mantém em tão boas condições.
É aplicado no cockpit, na fuselagem,
nos tanques de combustível, e cada parafuso é coberto.
E dentro dos tanques de combustível também há esse tratamento.
Esta cobertura evita o pó e a água da chuva,
enquanto sua cor branca reflete o calor.
O interior do avião nunca excederá mais de dez graus do que fora,
não importa quão forte esteja o sol.
Para estas aeronaves, o fim não virá do sol,
mas da terra embaixo.
4 DIAS SEM NINGUÉM
4 DIAS após os humanos.
Próximo de Pearl Harbor, os ponteiros do relógio
da famosa torre "Aloha" vão parar.
Instalado em 1926, o famoso relógio é movido
por contrapesos, e agora chega ao final de seu ciclo.
Normalmente, eles são recarregados pela eletricidade a cada dois dias,
mas a eletricidade está agora cortada em toda a ilha.
E isso inclui o desligamento do sistema anti-corrosão do Missouri.
A água do mar começa a comer o casco do navio.
E do céu, o Missouri sofre um novo tipo de ataque aéreo.
6 MESES SEM NINGUÉM
6 MESES após os humanos.
Os pássaros do Havaí estão migrando para sua nova ilha favorita.
As aves não têm nenhum problema para chegar a um lugar como este.
Elas vão tratá-la como a qualquer outra ilha pequena.
As aves trazem uma nova vida ao convés do Missouri,
largando sementes não digeridas
nos 4.929 metros quadrados dos decks do navio.
O USS Missouri tem decks de madeira, que são orgânicos.
Se desenvolverá terra e sementes, assim como em qualquer outro lugar.
É apenas uma questão de tempo.
Enquanto o Missouri se torna a mais nova ilha havaiana,
no Pacífico, a caixa de metal da ogiva nuclear russa
está prestes a se romper.
15 ANOS SEM NINGUÉM
São 15 ANOS em um mundo sem ninguém.
Em Pearl Harbor, o USS Missouri atingiu o fim da linha.
O barco está amarrado às docas por cordas de nylon.
Se você olhar aqui, esta corda tem um rasgão.
Dentro de 15 a 20 anos, as cordas vão se romper,
e o navio vai sair à deriva em Pearl Harbor.
Quando a corda rompe, o enorme navio se afasta do cais.
Agora à deriva, qual será o seu destino?
20 ANOS SEM NINGUÉM
20 ANOS após os humanos.
No deserto do Arizona, as aeronaves mumificadas em eterna formação
começam a mostrar sinais de fraqueza.
Anos de fortes ventos espalharam esses aviões
como brinquedos em um playground gigante.
No tempo dos humanos, os aviões tinham sempre que ser realinhados.
Devido a estes aviões terem um leme vertical acima da turbina,
eles se comportam como um cata-vento.
Nós temos rajadas de vento de cerca de 193 km/h,
que são suficientes para fazer os aviões se moverem um pouco.
A cobertura protetora dos aviões deve ser mantida periodicamente.
Aqueles que não recebem este cuidado sofrem as conseqüências.
Este "spray latte", como vemos aqui,
não cumpre mais sua função.
A água da chuva entra aqui e se espalha embaixo do "spray latte",
sob a camada protetora.
Agora, após duas décadas sem manutenção,
todos os aviões estão apanhando.
A pintura está ficando fina, e a ferrugem está corroendo as juntas.
As capotas estão embaçadas pelos raios ultra-violeta.
E as turbinas e jatos viraram casas de pássaros.
Essas aeronaves são pouco susceptíveis a quedas.
A estrutura das asas é a mais forte de todo avião,
para apoiá-lo durante o vôo,
e quando no chão, suportam seu próprio peso.
Assim, em um mundo sem seres humanos,
veríamos as asas ainda fixadas à fuselagem por muito tempo ainda.
Mas estes aviões não ficarão aqui o suficiente para perder as asas.
O que vemos aqui é um exemplo da erosão causada pela água da chuva.
Isso é algo comum em todas as aeronaves armazenadas aqui,
e as chances são grandes de que essa erosão
ocorra em apenas uma única tempestade.
Enquanto a chuva do deserto cava o solo por baixo,
os ventos do deserto atiram a poeira por cima.
E a terra começa a engolir o que antes foram grandes guerreiros.
25 ANOS SEM NINGUÉM
25 ANOS após os humanos.
3 mísseis nucleares russos ainda estão no fundo do Pacífico.
Cada ogiva de um megaton contém uma substância
que explode em contato com a água.
A substância é selada dentro de uma estrutura metálica,
coberta com uma proteção contra calor
ou desgaste em reentradas atmosféricas.
Mas com a pressão das profundezas, até mesmo uma pequena rachadura
em uma das estruturas pode ser fatal.
25 anos após os humanos, o mar começa a entrar em uma das bombas.
A explosão é abafada pela mesma pressão que abriu a brecha.
Uma pressão equivalente a 795 toneladas.
O plutônio da bomba vai ser espalhado por uma pequena área,
mas qualquer criatura marinha que entrar em contato com ele
vai morrer por envenenamento radioativo.
30 ANOS SEM NINGUÉM
30 ANOS após os humanos.
No interior, a maioria das vacas leiteiras morreram.
Mesmo as que acharam comida suficiente nas fazendas,
ou conseguiram escapar, não conseguiram se reproduzir.
Para produzir leite de forma contínua, as vacas leiteiras
devem ficar grávidas uma vez por ano.
No tempo dos humanos, isso era feito por inseminação artificial.
Muitas vacas de leite passam toda a vida sem nunca avistarem um touro.
Mas houveram exceções, e hoje esses pequenos rebanhos de sobreviventes
vão começar uma rápida re-evolução,
que lhes levará de volta à vida selvagem.
Locais como as planícies do Colorado seriam perfeitos.
Na capital do Colorado, na cidade de Denver,
o prédio mais característico na paisagem
é o Wells Fargo Center, com 50 andares.
Construído em 1983, tinha o apelido de "Caixa Registradora",
pela singularidade de seu telhado de vidro.
Seu design característico trouxe um problema surpreendente.
No clima nevoso da cidade,
os engenheiros tiveram que instalar um sistema de aquecimento no teto,
para evitar que a neve se acumulasse no telhado
e escorregasse pelo lado do prédio.
Com o aquecimento não funcionando mais,
o edifício agora tem uma coroa de neve congelada,
que pinga umidade nos andares abaixo.
E regularmente o centro de Denver enfrenta uma avalanche de neve.
45 ANOS SEM NINGUÉM
45 ANOS após os humanos.
Os traços do homem sobre a Terra estão desaparecendo a cada dia.
É um futuro que já aconteceu aqui, a menos de um quilômetro
de uma das maiores cidades do mundo.
Enquanto a ilha de Manhattan tem uma população
de mais de 1,5 milhões de pessoas,
ali perto a ilha de "North Brother" tem uma população de... zero!
Os primeiros edifícios foram construídos aqui em 1880.
A ilha serviu a muitas funções ao longo do tempo.
Abrigando veteranos da II Guerra Mundial,
servindo de quarentena a vítimas de doenças infecciosas,
e mais tarde, tratando de viciados em drogas.
Estes antigos moradores deixaram suas marcas na ilha sem ninguém.
Atrás de mim, está um edifício que foi construído
como um hospital para doenças infecciosas em 1943.
Foi usado até 1964.
Neste ponto, o lugar onde estou agora,
foi uma linda avenida que cortava a ilha, a principal rua da ilha.
Este hidrante, bem na frente do hospital,
estava localizado na calçada da rua.
Aqui embaixo, sob as plantas, estava o asfalto,
coberto por 3 centímetros de terra, que levou 45 anos para se acumular.
O Hospital Riverside, na ilha North Brother, foi criado em 1881.
Demolido em meados do século 20, alguns dos prédios ainda estão lá.
Foi aqui, em 1907, que Nova Iorque manteve em quarentena
sua mais famosa portadora de uma doença infecciosa: "Mary Tifóide"
A febre tifóide é uma doença fatal, usualmente provocada por água suja.
Surtos se tornaram raros à medida que o saneamento melhorou,
mas "Mary Tifóide" era uma ameaça muito especial a Nova York.
Mary Mallon era cozinheira, uma "portadora saudável",
que espalhou a doença, mas nunca ficou doente.
Ela foi formalmente acusada de ter infectado 53 pessoas,
mas muitos acreditam que ela tenha sido responsável por 1.400 casos.
Ela foi confinada na ilha "North Brother" em 2 diferentes ocasiões.
A primeira, em 1907, e depois morreu na ilha em 1938.
Isolada da cidade pela água,
a ilha North Brother dependia inteiramente de barcos
para suprir sua população em tudo, de comida a combustível.
Este cais serviu à ilha North Brother até 1960.
A doca na realidade era um ponto de descarregamento
de barcos que traziam carvão para cá.
A maioria das pranchas está faltando,
mas há parafusos gigantes de ferro, de 25 a 30cm de comprimento,
que nos dão uma idéia da espessura das pranchas.
Nós estamos de pé em uma plataforma de concreto,
que está suspensa sobre a água por pilares de madeira.
O concreto afundou e quebrou, porque os pilares se deterioraram.
A vida não era fácil aqui,
onde pessoas criticamente doentes esperavam a cura
para doenças que aterrorizavam o mundo exterior.
As estruturas que as abrigavam estão agora em condições críticas.
Nos prédios de tijolos mais antigos,
décadas de calor e congelamento estão derrubando as paredes.
No interior, o antigo aquecedor a carvão está destruído pela umidade.
E o resto do hospital está entregue a uma vegetação destrutiva.
Estamos aqui na entrada do hospital,
que serviu como centro para viciados em drogas.
Os pacientes eram trazidos para cá, pois isso é uma ilha.
E muitas das plantas também foram trazida para cá.
Plantas invasoras como o kudzu, madressilva e trepadeiras asiáticas
tomaram conta da ilha.
E fazendo isso, criaram para os pássaros uma nova casa.
A ilha representa um lugar ideal para ninhos.
Esse tipo de aves não faz ninhos em qualquer lugar.
Eles precisam de proteção, distância de predadores,
portanto a ilha North Brother é um dos poucos lugares
no estado de Nova York onde eles podem procriar.
Depois que doenças como tuberculose e febre tifóide foram contidas,
o hospital se tornou uma casa de repouso para pessoas
que precisavam de descanso de suas vidas.
Antes de ser abandonada,
espaços abertos e jardins bem conservados cercavam o prédio.
Após 45 anos de negligência,
o hospital inteiro está quase escondido.
Acredite ou não, aqui foi a quadra de tênis da ilha North Brother.
Ao lado do hospital, vemos 45 anos de desenvolvimento das plantas,
levando-o de volta à natureza, com terra acumulada.
Afastando um pouco da matéria orgânica,
achamos a antiga superfície de asfalto.
Uma camada de terra agora cobre a antiga quadra de tênis,
onde veteranos de guerra uma vez tentaram esquecer seus horrores.
Agora, a Natureza atacou o asfalto com suas próprias armas.
Este é um carvalho norueguês que envolveu o canto da quadra.
A semente provavelmente caiu em uma rachadura por volta de 1964,
e cresceu por cerca de 44 anos.
Você pode imaginar jogar numa quadra de tênis como essa, agora?
As trepadeiras acharam seu caminho para dentro dos prédios também.
Estamos dentro de um dos grandes quartos comuns do hospital,
originalmente construídos para abrigar pacientes de tuberculose.
Mas nunca foram usados para este objetivo.
A única coisa viva aqui agora é trepadeira da China.
Ela cresceu do chão até o quarto andar, entrando pela janela.
Ela é conhecida por crescer cerca de 30 centímetros por dia.
É quase visível a olho nu.
Durante os anos 1950 e 60,
viciados em drogas foram tratados nos prédios mais novos da ilha.
A arte nas paredes chama a atenção.
É 1964, e se você é um viciado em heroína, chamados de "perus",
este não seria um lugar agradável para estar.
A tela à minha direita é muito grossa,
e impedia os viciados de saírem pelas janelas.
A porta deste quarto tem um visor bem estreito, e uma enorme tranca.
Uma vez aqui, você não vai sair até que seja permitido.
Um "grafite" diz:
"Ajudem-me, eu estou preso aqui contra minha vontade".
Muitos outros detalham nomes, bares, lugares, ruas de Nova York.
50 anos depois disso, ninguém se lembra de seus nomes.
A destruição das defesas do prédio é bem visível aqui,
nas pilhas de gesso que se acumulam na base das paredes.
O gesso é o material mais frágil deste edifício,
e o primeiro a cair quando as janelas quebradas
expõe o interior à umidade.
O que é revelado por baixo são os grossos tijolos,
usados para isolar um quarto dos outros.
Este prédio diz para mim que foi construído
para o isolamento, para o silêncio.
Quando o prédio foi originalmente construído,
era para ser um hospital para tuberculose.
O tempo mudou o objetivo principal do prédio.
O que foi construído para o isolamento e solidão,
é agora um prédio que faz parte da cacofonia da natureza.
E é isso o que acontece depois dos seres humanos.
O céu aberto não é o único lugar na Terra
onde os tentáculos da natureza estão estrangulando
o que os humanos deixaram para trás.
Nos oceanos, outrora majestosos navios de guerra brigam
com a vida marinha, uma guerra que eles não vencerão.
50 ANOS SEM NINGUÉM
São 50 ANOS após os humanos.
Na ilha havaiana de Ouahu,
a selva encobriu as estradas até Pearl Harbor, vindas de Honolulu.
Se você quiser uma imagem de como
as estradas de Honolulu seriam após os humanos,
tudo que tem a fazer é vir aqui na antiga estrada, fechada em 1960.
Aqui há um vestígio de uma linha central,
e a vegetação da montanha encobriu tudo desde lá.
E mais adiante na estrada, ela foi encobrindo ambos os lados,
até sobrar apenas uma passagem estreita.
65 ANOS SEM NINGUÉM
65 ANOS após os humanos.
Até mesmo as mais sólidas relíquias de guerra começam a cair.
Ao longo da costa da França,
armas silenciosas, arame farpado e obstáculos de ferro
estão sucumbindo à ferrugem.
No tempo dos humanos, isso já podia ser visto
na base de artilharia de "Point du Hoc",
que vigiava o litoral da Normandia.
Essas barricadas são parte da Muralha do Atlântico,
criada pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial,
para manter os aliados fora da Europa do Norte.
Em 06 de junho de 1944,
Point du Hoc foi fortemente bombardeada
pelas forças americanas durante a invasão do "Dia D".
A base de Point du Hoc
pode ser considerada um erro militar em termos
de sua capacidade de evitar a invasão pelo mar.
Mas do ponto de vista construtivo, é um sucesso.
As estruturas são extremamente duráveis,
mas também suscetíveis à deterioração.
Bunkers e casas de armas ao longo da costa da Normandia
foram construídas de concreto com reforços de metal.
Construídas durante a guerra, com perigo de uma invasão iminente,
os cantos foram inevitavelmente cortados.
Conchas foram muitas vezes adicionadas à mistura de concreto,
e em alguns casos, o concreto ainda não tinha tido tempo
de secar antes de as bombas começarem a cair.
Estas fraquezas deixaram os bunkers vulneráveis não apenas às bombas,
mas à corrosão do futuro.
O concreto tipicamente se deteriora por várias razões,
que podem ser agregados reativos, solo reativo, congelamento.
Mas nenhum desses fatores está presente em Point du Hoc.
O maior problema nessas estruturas é o próprio reforço de metal.
Umidade e sal do ar entram nos bunkers
através de poros e fissuras no concreto.
Isso força a corrosão das barras de ferro.
Elas se expandem e racham o concreto.
Um excelente exemplo é o que acontece quando o metal corrói.
Ali em cima, pode-se ver o concreto quebrado e a deterioração
resultante do reforço de ferro.
Pode-se ver a ferrugem, que causa a deterioração.
É recuperável, mas em um mundo sem ninguém,
essa corrosão vai continuar e causar a queda da estrutura.
Os romanos usaram concreto para construir algumas
de suas monumentais estruturas
muito antes da invenção dos reforços de metal.
Esta aparente fraqueza na realidade lhes dá
uma vantagem em um mundo após os humanos.
Em um mundo após os humanos o concreto, se não tiver reforços,
pode sobreviver mais tempo. Por exemplo, o Panteão em Roma.
Paredes de 6 metros, sem reforços, sobreviveram por 2.000 anos.
Enquanto as estruturas de Point du Hoc
têm os reforços e potencial para corrosão,
que vai provavelmente avançar em um mundo sem ninguém,
a uma velocidade superior à de um prédio de 2.000 anos de idade.
70 ANOS SEM NINGUÉM
São 70 ANOS após os humanos.
Em Pearl Harbor, o navio que era o orgulho
da frota americana está agora coberto de verde.
Uma camada de arbustos e grama consome os decks do USS Missouri.
Trepadeiras sobem nas estruturas e nas armas de 5 polegadas.
Apesar das cordas terem arrebentado há muito tempo,
o Missouri não derivou para longe do cais.
A lama do fundo do oceano manteve o colosso
de 45.000 toneladas perto da costa.
Curiosamente, o Missouri se deteriora mais rápido
acima da linha d´água do que abaixo.
Sabemos disso pelas expedições de exploração nas ruínas do Arizona,
70 anos depois que o navio afundou após o ataque a Pearl Harbor.
Depois de décadas sob a água,
as áreas expostas do Arizona enferrujaram rapidamente.
Mas sob a superfície da água,
o casco foi preservado por um exército
de esponjas coloridas, vermes e corais.
Basicamente, a incrustação é como um cobertor que cobre o casco,
mas na realidade protege o navio contra a corrosão, retardando-a.
Assim, quando há incrustação, as taxas de corrosão são menores.
E enquanto a vida marinha forma uma camada de proteção
no casco do Arizona,
o deck de madeira é coberto por uma camada de lama e sedimentos
que oferece a sua própria proteção.
Os microorganismos que normalmente iriam deteriorar o deck
foram mantidos longe, e o deck foi muito bem preservado.
Basta afastar a lama um pouco e ele está liso e sólido,
como era em dezembro de 1941 quando os marinheiros andavam no convés.
70 anos depois de afundar, estima-se que o Arizona ainda tenha
1,9 milhões de litros de combustível a bordo,
a maioria no tanque de combustível e compartimentos alagados.
7,5 litros de óleo vazam do navio por dia,
subindo à superfície como uma ferida sangrando.
Será esse o destino do USS Missouri?
Ou ele terá outra rota de destruição em um mundo sem ninguém?
E em Denver, a grande avalanche ainda está por vir.
200 ANOS SEM NINGUÉM
Agora são 200 ANOS após os humanos.
Despojado de suas defesas,
o prédio da "Caixa Registradora" de Denver
repetidamente provocou avalanches nas ruas abaixo.
Mas a próxima avalanche não vai ser de neve, mas de metal.
No tempo dos humanos, Engenheiros da Universidade do Colorado,
estudaram as diferentes formas que um arranha-céus poderia cair.
Neste modelo, as placas de metal representam os andares do edifício.
As barras de madeira, comparativamente mais fracas,
representam as colunas metálicas enfraquecidas pela corrosão.
Se um andar superior cai, ele pode causar uma violenta cascata.
Quando o piso superior de um edifício se solta de suas colunas,
seu peso total é movido pela gravidade.
E quando atinge o piso diretamente abaixo dele,
os escombros dobram de peso,
e vai aumentando mais e mais à medida que os outros andares caem.
Um edifício tão alto como o Wells Fargo, em Denver,
pode ter esse efeito cascata talvez em 200 anos.
Fora de Denver, nas pradarias do Colorado,
os descendentes do gado doméstico acharam uma nova forma de viver.
O gado do futuro será um animal muito diferente
do que vemos hoje nas pastagens.
Será menor, mais flexível, mais ágil,
capaz de escapar de predadores mais eficientemente.
Terá muitas das características dos veados.
Ainda mais impressionante serão os rebanhos de bisões nos prados.
Antes do homem caçá-los até quase a extinção,
haviam perto de 60 milhões destes enormes animais na América.
No século 21, esta população encolheu para 350.000.
Extremamente adaptados a este terreno,
200 anos sem humanos bastaria para que sua população explodisse.
Uma vez mais, os búfalos podem andar livremente.
250 ANOS SEM NINGUÉM
250 ANOS após os humanos.
Em Pearl Harbor, os decks do USS Missouri ainda estão acima da água.
Mas a água está penetrando no casco.
Se você olhar para a linha d´água, há uma série de rebites,
e os rebites são o ponto fraco do navio.
Quando enferrujarem, vão soltar e a água vai entrar nos tanques,
e isso vai inundar o navio.
À medida que a água entra, o navio afunda mais na lama.
Os decks vão ficar 3 metros acima da água,
permitindo aos elementos que continuem a destruir sua estrutura.
Por quanto tempo o casco do Missouri permanecerá intacto?
Ensaios conduzidos no USS Arizona em 2008 e 2009
determinaram que o casco ainda resistiria
300 anos antes de ser totalmente destruído.
Construído quase 30 anos depois,
o Missouri é um navio muito mais avançado,
Com paredes de 44 centímetros de espessura em alguns pontos,
os engenheiros estimam que o navio pode
se manter por incríveis 20 mil anos,
se tornando um abrigo para gerações de peixes tropicais.
Um navio afundado servindo como recife artificial não é novidade.
Em 2006, a marinha americana intencionalmente afundou o
porta-aviões aposentado USS Oriskany na costa da Flórida.
Ele levou menos de 45 minutos para desaparecer sob as ondas.
Com um comprimento de 275 metros,
ele se tornou um dos maiores recifes artificiais do mundo.
Em questão de meses, ele era disputado
por criaturas do mar, incluindo 38 espécies de peixes.
O Oriskany ficou conhecido como o "grande navio de corais".
Por todo o mundo, os armados e os indefesos batalharam.
Alguns mostraram surpreendente resistência.
Outros, sofreram por fraquezas ocultas, que os levaram à ruína.
No fundo do oceano, nas áreas costeiras, e nos desertos,
a batalha continua silenciosamente, em uma vida após os humanos.
Tradução, revisão e sincronismo: __SteriS__+__pitiKa__ 19.04.2011